O Brasil crescerá mais?
26 de fevereiro de 2013
Na segunda metade de seu governo, o maior desafio da presidente Dilma Rousseff será tirar a economia do marasmo
Em 2013, ao iniciar a segunda metade de seu mandato, a presidenteDilma Rousseff terá pela frente aquele que será, provavelmente, seu maior desafio: recolocar o país na trilha do crescimento econômico. Nos dois primeiros anos de seu governo, o desempenho foi fraco. Em 2011, o Produto Interno Bruto (PIB) – a soma de todas as riquezas produzidas no país – cresceu 2,9%. Em 2012, segundo as projeções mais recentes, o crescimento ficou em torno de 1%, contrariando o otimismo do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Trata-se de um resultado não apenas inferior ao de 2011, mas também ao de outros países emergentes, como China ou Índia, e até mesmo ao dos EUA, epicentro da atual crise global, cujo crescimento é estimado em 2% no período. “É uma tragédia”, afirma o ex-ministro e ex-deputado Antônio Delfim Netto, guru do governo na área econômica.
O pibinho de 2012 assegurou a Dilma a pior média de crescimento econômico nos dois primeiros anos de governo desde a gestão de Fernando Collor, na década de 1990: 2% ao ano. É um índice que fica abaixo da média de 2,3% ao ano do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Em razão do fraco desempenho da economia, a revista britânica The Economist pediu a cabeça de Mantega, em editorial publicado no início de dezembro. Dilma reagiu. “Em hipótese alguma, o governo brasileiro, eleito pelo voto direto e secreto do povo brasileiro, será influenciado pela opinião de uma revista que não seja brasileira”, afirmou Dilma.
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Quando ela tomou posse, havia uma expectativa de que a bonança do final da década passada pudesse continuar. Economista por formação, com fama de “gerentona” e ampla experiência na administração pública, Dilma era, no entender de muitos analistas e empresários, dona dos atributos necessários para se dar bem na área. Decorridos dois anos de governo, não foi o que aconteceu. No final de 2012, ela afirmou que gostaria de receber “um pibão grandão” de presente em 2013. Será que ela conseguirá?
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Entre os economistas, é difícil, quase impossível, que haja acordo em relação a qualquer assunto – relevante ou irrelevante. Neste caso, porém, de forma surpreendente, há um consenso: em 2013, o crescimento será maior que em 2012 e, em 2014, provavelmente também. De acordo com a média das previsões das instituições financeiras, compilada pelo Banco Central, o PIB deverá crescer 3,4% em 2013 – um indicador que, se confirmado, será o mais alto do governo Dilma, embora distante dos 7,5% registrados no último ano do governo Lula.
Embora seja um crescimento razoável, não é o que se espera de um país emergente como o Brasil. Ele deverá ser menor que a média global, calculada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em 3,6%. Será mais baixo também que o potencial do próprio país, estimado pelos analistas entre 4% e 4,5% do PIB – um patamar que se costuma considerar como limite para o Brasil crescer, sem gerar um aquecimento indesejável da inflação. Essa incômoda constatação nos leva a uma pergunta: como Dilma poderia destravar o crescimento brasileiro?
Aqui, mais uma vez de forma surpreendente, repete-se um consenso improvável entre os economistas, independentemente até de suas tendências ideológicas. A percepção geral é que o grande vilão do crescimento do Brasil é o baixo volume de investimento. Se não houver um aumento considerável nos investimentos, tanto da iniciativa privada como do governo, dificilmente o crescimento decolará nos próximos anos (leia no quadro abaixo).
Hoje, o nível de investimento brasileiro, que chegou a 22% do PIB em 2008, beira os 18% – um patamar considerado baixo, em comparação com o de outros países emergentes. Na China, ele alcança 50% do PIB. Na Índia, 38%. No Brasil, para piorar, o volume de investimentos diminuiu em 2012. No terceiro trimestre, último dado oficial disponível, ele caiu quase 6% em relação ao mesmo período de 2011. Foi a quinta queda consecutiva. “A falta de investimento é a matriz do problema que vivemos hoje, com a desaceleração da economia”, afirma Júlio Sergio Gomes de Almeida, professor de economia da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda na gestão de Lula.
Na visão do governo, todas as medidas indicadas foram tomadas, sem que houvesse a reação esperada dos empresários. Primeiro, Dilma ressuscitou o corte de impostos do governo Lula para automóveis, móveis, materiais de construção, eletrodomésticos e eletrônicos. Depois, aumentou alíquotas de importação e desvalorizou o real, para favorecer a indústria nacional. Ainda desonerou a folha de pagamentos de 25 setores e anunciou a renovação dos contratos das empresas do setor de energia, para baixar a conta de luz. Agora, divulgou algo parecido para os portos.
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Na área financeira, o governo fez aportes bilionários do Tesouro ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para ampliar o financiamento das empresas, em especial de grande porte. Lançou uma cruzada contra os juros altos e pôs os bancos estatais, como Banco do Brasil e Caixa, a serviço dessa plataforma. Mesmo com tudo isso, os investimentos não decolaram.
Esse paradoxo aparentemente injustificável tem a ver com o que Delfim chama de “ativismo” do governo. Ou com o que ele considera uma “maneira truculenta” de implementar os projetos, sem discussão prévia com os setores envolvidos, caso da renovação antecipada dos contratos das concessionárias de energia do país. “A confiança é a roda dentada da economia – e ela perdeu os dentes em cima de uma hipótese falsa, de que existe um complô contra o setor privado, de que o governo quer nacionalizar a economia”, diz Delfim. “Há um problema sério de coordenação da economia, de diálogo e negociação com o setor privado”, afirma Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica no governo Sarney (1985-1990) e também guru, como Delfim, do governo na área.
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Em 2013, tudo leva a crer que a situação nesse quesito melhorará, apesar da crise externa. Isso explica, em boa medida, o maior otimismo dos analistas. Segundo a média das previsões do mercado, o nível do investimento deverá crescer 3,6% em relação a 2011. Mesmo assim, como no caso do PIB, a recuperação deverá ser inferior à desejável. Principalmente se levarmos em conta que, nesses números, estão incluídos investimentos para a Copa do Mundo de 2014 e para aOlimpíada de 2016 no Rio de Janeiro, além de um ingresso recorde de investimentos estrangeiros na produção (eles foram US$ 60 bilhões em 2012). Uma nova pergunta então se impõe – e, com ela, termina o consenso entre os economistas em relação ao crescimento no Brasil. O que é preciso fazer para alavancar mais os investimentos?
A resposta tem um elevado teor de ideologia, porque envolve a discussão sobre o atual modelo econômico do país, semelhante ao implementado nos tempos do “milagre econômico”, nos anos 1970, sob o comando do próprio Delfim. Baseado no fechamento relativo do país a produtos importados, no protecionismo, no papel preponderante do Estado na economia e na concessão seletiva de benefícios e financiamentos subsidiados com dinheiro público, esse modelo ressurgiu no final de 2008, como remédio temporário para a crise econômica. Acabou encampado pelo governo de forma permanente, graças aos resultados alcançados na fase final do governo Lula. Ele está longe, porém, de ser uma unanimidade – e o resultado pífio do PIB na primeira metade do governo Dilma dá razão a seus críticos.
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Para Delfim, obviamente, o governo está na direção certa. Segundo ele, uma vez resolvida a questão da confiança, a economia deslanchará. “Minha esperança é que se transcenda a esse mito de separação entre o setor público e o setor privado, para de novo despertar o espírito animal dos empresários. Eles têm de acreditar que ninguém quer uma sociedade socialista, mas capitalista e moderna”, afirma. Belluzzo pensa da mesma forma, até porque, quando esteve no governo, seguiu basicamente o mesmo caminho de Delfim. Ele acredita que a retomada do crescimento é uma questão de tempo. “A transição demora”, diz Belluzzo.
No outro extremo, os economistas de orientação mais ortodoxa acreditam que o crescimento sustentável dos investimentos só deverá ocorrer se houver uma mudança sensível no modelo econômico. Para essa corrente, a desconfiança dos empresários vai muito além do estilo autoritário e avesso ao diálogo de Dilma ou da má comunicação com os empresários. “O governo não gosta é que o setor privado ganhe dinheiro”, afirma o economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central.
Há uma percepção – mais que justificada – de que o atual modelo, dependente das ações do governo, estimula a corrupção e o tráfico de influência, como mostraram os escândalos do mensalão e da ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha. “Isso leva as empresas a querer se aproximar do rei – ou da rainha – para ser beneficiadas pelas escolhas de vencedores e políticas seletivas”, afirma Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real e diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica Casa das Garças, no Rio de Janeiro.
Entre os empresários, ganha corpo a noção de que o governo é “pró-negócios”, e “não pró-mercado”. “Políticas ‘pró-mercado’ favorecem a concorrência e a igualdade de tratamento entre grandes e pequenas empresas, em diferentes setores, e entre produtores nacionais e estrangeiros”, afirma Armínio Fraga, sócio da Gávea Investimentos e também ex-presidente do Banco Central. “Políticas ‘pró-negócios’ buscam responder a pleitos de setores empresariais e trabalhistas com tratamentos distintos em áreas como impostos, regulação e crédito.”
A política do “quem chora mais ganha mais” se manifesta no comércio exterior por meio da adoção de medidas protecionistas. É o caso do aumento das alíquotas de importação para beneficiar indústrias que se dizem ameaçadas pela concorrência estrangeira, como de veículos, máquinas e equipamentos industriais. “O protecionismo desestimula o investimento e o aumento da produtividade”, afirma Bacha. “Por que os empresários investirão na modernização de suas indústrias e na inovação, se eles podem se manter do jeito que estão no mercado e ainda subir os preços de seus produtos, sem sofrer a concorrência dos importados?”
Ninguém acredita que Dilma pretenda mexer na essência da política econômica adotada nos últimos anos. É mais provável, como ficou claro com as medidas adicionais de estímulo à economia anunciadas por Mantega no final do ano, que teremos mais do mesmo em 2013. Talvez, como apontam as projeções, o PIB e o nível dos investimentos tenham uma ligeira alta. Mas, a julgar pela história, o modelo econômico atual não deverá levar o país a crescer de forma sustentável no longo prazo. “O receio é que uma certa volta ao modelo dos anos 1970 nos leve outra vez à frustração de nossos planos de desenvolvimento”, diz Armínio Fraga. “Sem investir mais e melhor e sem um Estado eficiente, não chegaremos ao nosso potencial.”
Fonte:http://revistaepoca.globo.com/tempo/noticia/2013/01/o-brasil-crescera-mais.html
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